O rompimento unilateral das relações diplomáticas da Arábia Saudita e seus aliados árabes com o Catar, em retaliação a um suposto apoio ao terrorismo e fortalecimento do diálogo com o Irã (arquirrival histórico comum aos árabes), demonstra que a discussão em torno do jogo geopolítico no Oriente Médio carece, muitas vezes, de honestidade intelectual.
É importante esclarecer que, apesar de todas estas monarquias árabes serem aliadas dos EUA, o bloco liderado pelos sauditas também apoia indiretamente o terrorismo regional de base sunita (Estado Islâmico e Al-Qaeda, sobretudo).
Se um dos gargalos era a boa relação Catar-Irã, é de se estranhar o corte das relações com o Catar e não com o Irã. Logo, Arábia Saudita e seus aliados tentam colocar em prática aquilo que Trump já ensaiara em sua agenda externa: abortar a aproximação diplomática dos Estados Unidos com o Irã e também com qualquer outro país que tente se relacionar com os persas, numa desesperada manobra para elevar o preço do petróleo, principal renda dessas monarquias árabes.
Este novo realinhamento geopolítico ainda agrada israelenses e reforça o coro conservador regional. Em um momento que exige sobriedade e equilíbrio diplomáticos, esse ímpeto nada amistoso tende a escalonar os conflitos e guerras que ali existem.
Jorge Mortean – Consultor de Cultura e Negócios Internacionais (Brasil-Irã) da Mercator Business Intelligentsia
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